Êta Mundo Melhor estreia nostálgica, mas destrói o legado da novela original

crítica êta mundo melhor

Continuação de Êta Mundo Bom! emociona pela ambientação e atuações, mas decepciona ao desmontar conquistas dos personagens e repetir arcos com pouca criatividade

A novela Êta Mundo Melhor! estreou no dia 30 na TV Globo trazendo de volta o universo encantador criado por Walcyr Carrasco em Êta Mundo Bom!, sucesso absoluto em 2016. O capítulo de abertura consegue resgatar com êxito o tom leve, cômico e acolhedor que marcou a trama original, especialmente pela direção artística e pela força de seu elenco. No entanto, ao mesmo tempo em que emociona com a nostalgia, a novela decepciona com a forma como reescreve o destino de personagens consagrados.

Logo de início, impressiona a fidelidade de Sérgio Guizé ao seu personagem. Candinho continua sendo aquele herói simples, engraçado na medida certa e extremamente cativante. Apesar dos quase dez anos entre as produções, o ator retoma a essência do personagem com naturalidade, mantendo tudo o que o tornou tão querido pelo público. A direção também acerta ao preservar a estética colorida e acolhedora da novela original. A marca de Walcyr Carrasco está visível em cada detalhe — da abertura aos diálogos recheados de simplicidade e ternura.

O final da novela original foi destruído

Contudo, é justamente no texto que surgem os primeiros ruídos. A justificativa para o novo enredo parte de uma traição forçada: Filó (Débora Nascimento) abandona Candinho e foge com Ernesto (Eriberto Leão), o vilão que outrora ameaçou sua felicidade. A decisão não apenas contraria toda a construção da personagem, como também destrói a base emocional da novela original. Mesmo que Filó nunca tenha sido unanimidade entre o público, forçá-la a uma atitude tão incoerente é, no mínimo, desonesto com sua trajetória. Seria mais digno matá-la tentando proteger o filho do próprio vilão.

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A incoerência não para por aí. O casal Maria e Celso, que conquistou os fãs com uma história de redenção genuína, é outro alvo de desconstrução. Em 2016, Maria se revelou mais protagonista que Filó, conduzindo a transformação de Celso e o afastando da influência da irmã Sandra. Agora, Maria é descartada nos primeiros capítulos, e Celso volta ao ponto de partida — ambicioso, manipulável e interessado apenas no dinheiro. A volta de Sandra ao jogo, com ajuda de Celso, só reforça o quanto a narrativa insiste em apagar as evoluções anteriores sem oferecer nada realmente novo.

Repetições de arcos e personagens idênticos

O roteiro, que segundo o próprio autor contou com auxílio de inteligência artificial, dá sinais claros de repetição e pouca ousadia. Larissa Manoela surge como Estela, personagem que parece uma nova versão de Maria e que, novamente, será responsável por redimir Celso. A sensação de déjà vu é inevitável — como se assistíssemos à mesma novela com nomes diferentes.

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A trama de Candinho também repete seu arco original, mas invertido: agora ele não é o filho perdido, e sim o pai em busca do herdeiro. A estrutura é idêntica, apenas girada em outra direção. E as repetições continuam. Professor Pancrácio, vivido por Marco Nanini, não retorna, mas seu papel é substituído por Professor Asdrúbal (Luís Miranda), que também usará disfarces femininos e oferecerá conselhos a Candinho. Já Pirulito, o garoto esperto que acompanhava o protagonista, agora dá lugar ao semelhante Picolé (Isaac Amendoim).

Até o casal Mafalda e Zé dos Porcos, que teve um desfecho feliz e merecido, é desmontado. A revelação de que Mafalda abandonou o amado para fugir com Romeu soa oportunista e injusta com a trajetória do caipira, um dos personagens mais carismáticos da obra original.

A única escolha que parece realmente original é o relacionamento entre Candinho e Dita, mas esperamos que não caia nas mesmas idas e vindas que fizeram Filó se tornar uma personagem tão esquecida pelo público na novela original.

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Êta Mundo Melhor! tem tudo para ser uma boa novela. A direção é competente, o elenco é carismático e o universo criado por Carrasco continua sendo um espaço seguro para o público das seis horas. No entanto, a decisão de reconstruir esse mundo às custas de apagar conquistas e reproduzir arcos idênticos revela uma falta de coragem criativa. O brilho da novela de 2016 ainda existe, mas parece cada vez mais distante quando assistimos a essas escolhas.

Assista Êta Mundo Melhor

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