A terceira temporada de Round 6 começa exatamente de onde a anterior parou, mergulhando nas consequências da rebelião liderada por Gi-Hun. Com uma atmosfera mais emocional desde o início, a série reforça o tom sombrio que a tornou um fenômeno, mas tropeça ao tentar manter o fôlego e a complexidade que conquistaram o público na estreia.
Logo de cara, o roteiro opta por um caminho menos esperançoso, e isso fica evidente tanto na estética quanto nas escolhas narrativas. As novas provas, apesar de visualmente bem executadas, não apresentam a mesma inventividade ou impacto psicológico dos desafios originais. O tradicional pique-esconde ainda reserva bons momentos de tensão e se torna marcante com o nascimento da filha da jogadora 222. Nesse mesmo jogo, acontece também uma das mortes mais sentidas e injustas da temporada.

Uma prova mais brutal que Batatinha Frita 1,2,3?
Já a aguardada prova da corda, apesar do grande destaque no marketing, entrega menos do que prometia. É uma dinâmica válida, mas não alcança a brutalidade simbólica de “Batatinha Frita 1, 2, 3”, nem gera o mesmo desconforto. Fica a sensação de que o espetáculo poderia ter ido além.

Um dos pontos altos é a travessia de Gi-Hun, que proporciona cenas fortes e significativas. O sacrifício de uma personagem querida também eleva o peso dramático da narrativa, oferecendo um respiro trágico e eficaz. No entanto, ao chegar ao clímax, a temporada perde força. A última prova reúne nove jogadores — oito adultos e uma bebê —, mas diferente do jogo final da primeira temporada, não há torcida, tensão ou empatia.
Metade dos sobreviventes sequer tem nome ou história. Estão ali apenas para compor o grupo do detestável jogador número 100, enfraquecendo o impacto da batalha final. O jogador 125, por sua vez, protagoniza um arco desinteressante e raso, desperdiçando o tempo que poderia ser dedicado a personagens mais cativantes.
A tentativa de tornar o Jogo da Lula mais épico falha pela quantidade de participantes e por decisões narrativas pouco eficazes. Em vez de um confronto direto e brutal, somos arrastados por diálogos longos e alianças frágeis que apenas alongam o tempo e cansam a audiência. A tensão só retorna nos minutos finais, quando já é tarde demais para salvar o impacto dramático que se esperava.
O investigador mais inútil da história
O arco de Hwang Jun-ho, o policial infiltrado, também sofre com a repetição e lentidão. Enquanto sua busca pela verdade foi um dos pilares da primeira temporada, agora ele apenas gira em círculos, sem conseguir avanços reais. A cena final, com o irmão ignorando sua pergunta, simboliza bem a inutilidade de sua jornada.

Por outro lado, o Líder continua sendo uma figura enigmática e bem construída. Mesmo com poucas explicações, sua presença mantém a aura de mistério e complexidade que combina com o tom da série. Sua decisão de cuidar da bebê 222 e redirecionar o dinheiro de Gi-Hun oferece ao público um encerramento um pouco menos amargo, embora ainda melancólico.
Outro arco relevante nesta temporada é o da agente 11, que enfrenta o sistema de dentro para proteger o jogador 246. Apesar de ser uma subtrama interessante e bem escrita, ela parece deslocada, desviando o foco daquilo que realmente nos prende: os jogos e seus participantes.
O final de Round 6 e o spin-off americano
Round 6 nunca prometeu finais felizes — e isso é parte do seu encanto. A crítica ao sistema, à desigualdade e à crueldade do capital segue firme. No entanto, a terceira temporada deixa de ser épica para se tornar apenas amarga. Perde-se a chance de encerrar a série com força máxima, tanto na emoção quanto na estrutura dos jogos.
A promessa de um spin-off americano pode atrair novos públicos, mas soa desnecessária. No fim das contas, é mais um reflexo da indústria estadunidense querendo ocupar o centro do palco de algo que não lhe pertence.

A terceira temporada encerra Round 6 com reflexões duras, personagens desperdiçados e um encerramento que, embora coerente com a proposta, poderia ter sido muito mais memorável.