Felca não foi o primeiro a denunciar Hytalo Santos, mas ninguém se importou

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O vídeo recente de Felca sobre Hytalo Santos virou assunto nacional, mas a verdade é que as denúncias contra o influenciador — famoso por conteúdos com crianças e adolescentes — não começaram agora. Muito antes do youtuber ironizar e expor o caso para milhões, já havia alertas sérios e até investigações oficiais em andamento. O problema é que, até então, ninguém parecia disposto a dar a devida atenção.

Desde 2024, Hytalo é alvo de apurações conduzidas pelo Ministério Público da Paraíba em duas frentes distintas: uma na Promotoria da Infância e Juventude de Bayeux e outra em João Pessoa. As investigações miram possíveis práticas de exploração de menores nos vídeos do criador de conteúdo, que acumulam milhões de visualizações e frequentemente expõem crianças em situações questionáveis. A CNN Brasil confirmou que esses procedimentos ainda estão em andamento, com diligências sigilosas para apurar a dimensão das condutas.

Muito antes disso ganhar corpo nas redes, a apresentadora Antonia Fontenelle já havia usado suas plataformas para criticar abertamente Hytalo. Em outubro de 2024, ela publicou um vídeo chamando o conteúdo do influenciador de “bizarro” e acusando-o de sexualizar crianças. A gravação, no entanto, foi retirada do ar por determinação judicial após ação movida pela equipe de Hytalo — um episódio que, na prática, silenciou momentaneamente o debate.

“É inadmissível que conteúdos assim circulem livremente na internet”, disse Fontenelle no vídeo original, segundo registros reproduzidos por veículos de imprensa antes da remoção.

Na época, mesmo com as declarações de uma figura conhecida e com investigações oficiais em curso, o caso mal arranhou a superfície do debate público. O algoritmo seguiu alimentando os vídeos do influenciador, e grande parte do público continuou assistindo sem questionar.

Após o viral do Felca, Antonia Fontenelle comemorou a repercussão sobre o tema, mas relembrou que já havia feito isso e que a Justiça ficou contra ela:

“Esse foi o primeiro vídeo voltado pra esse tema de erotização de crianças relacionado ao perfil do Hytalo Santos. Esse vídeo me rendeu um processo e uma condenação, fui processada e julgada a revelia, fiquei sabendo pela imprensa. Aguardo carinhosamente as autoridades, celebridades e políticos altamente engajados no tema, pra pedir arquivamento dessa condenação, afinal de contas não falei nada de diferente do que foi posto pelo nosso heroi felca correto? Tudo isso apenas pra dizer que por essas e outras reivindicações nesse sentido, venho sofrendo um verdadeiro assédio processual desde de 2019. Essa que vos fala anda bem cansada, mas não pra dizer QUE NÃO VOU ME CALAR, me compadecer da dor dos inocentes é minha missão nessa passagem.”

Diferente do Felca, Antonia Fontelle não teve apoio. Por que?

Foi só com o vídeo de Felca, carregado de humor ácido e ironia, que o assunto explodiu. Em poucas horas, a repercussão no YouTube e nas redes sociais colocou Hytalo no centro de um furacão midiático, gerando reações indignadas de pessoas que até então nunca tinham ouvido falar dele. A diferença? Desta vez, a crítica veio embalada em entretenimento e distribuída por um criador com uma base fiel de milhões de seguidores — o que, tristemente, parece ter sido mais eficaz para chamar atenção do que uma denúncia formal ou um alerta de jornalista.

O caso expõe uma realidade incômoda: denúncias sérias, respaldadas por investigações e vozes conhecidas, podem ser ignoradas por meses até que o assunto seja transformado em produto de consumo rápido nas redes. Quando isso acontece, a indignação é instantânea, mas o atraso no interesse coletivo deixa claro que a gravidade do tema, sozinha, não basta.

Enfim, a verdade é que vivemos uma era onde as pessoas são incapazes de ver virtude em pessoas com viés ideológico ou político diferente, ainda que tais pessoas tenham algo relevante a falar ou denunciar.

Fonte: CNN Brasil, O Tempo

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