Casas mal-assombradas sempre povoaram o imaginário popular, mas para uma família da Pensilvânia, nos Estados Unidos, essa expressão nunca soou tão literal. Entre 1974 e 1989, os Smurl relataram uma série de fenômenos paranormais que se estendiam de ruídos inexplicáveis até agressões físicas e abusos sexuais. O caso ganhou repercussão nacional, dividiu opiniões e até hoje é considerado um dos episódios mais perturbadores investigados por Ed e Lorraine Warren.
O começo da assombração
Em 1974, após perder a antiga casa para uma enchente, Jack e Janet Smurl se mudaram com suas filhas gêmeas para uma residência na Chase Street, em West Pittston, Pensilvânia. A princípio, parecia um recomeço tranquilo. Mas em pouco tempo surgiram os primeiros sinais de que havia algo errado.
Rachaduras inexplicáveis apareciam nas paredes recém-pintadas. Odores fortes e nauseantes surgiam do nada, impregnando os cômodos. Sons de arranhões, batidas e passos ecoavam pela casa mesmo quando ninguém estava andando. No início, os Smurl acreditaram se tratar de problemas estruturais ou de encanamento. Mas a situação logo ultrapassaria qualquer explicação racional.
Quando o medo se tornou físico
Ao longo dos anos, os fenômenos ganharam intensidade. Objetos passaram a se mover sozinhos, eletrodomésticos ligavam e desligavam sem motivo. Os próprios moradores começaram a relatar ataques físicos invisíveis.

Janet descreveu ter sido violentada repetidas vezes por uma entidade demoníaca. Jack, por sua vez, disse ter sido agredido sexualmente por uma aparição feminina sombria. As filhas do casal contaram ter visto figuras negras rondando a casa e sentiram-se sufocadas por presenças invisíveis em seus quartos. Até mesmo vizinhos relataram avistar formas escuras atravessando as janelas.
O clima na residência se tornou insustentável. As manifestações, que aconteciam de forma quase diária, iam de arranhões no corpo a sussurros ameaçadores que ecoavam pelos corredores.
A chegada dos Warren
Desesperados, os Smurl pediram ajuda à Igreja e a diferentes grupos de investigação paranormal. Foi nesse contexto que Ed e Lorraine Warren chegaram à casa em meados da década de 1980.
Lorraine, médium clarividente, afirmou ter identificado de imediato uma atmosfera pesada e sufocante. Segundo ela, quatro entidades atuavam na residência: um espírito humano violento, uma idosa amarga, uma jovem confusa e, acima de todos, um demônio poderoso que controlava as demais. Ed descreveu o local como um dos ambientes mais malignos que já havia investigado.

Padres católicos tentaram realizar bênçãos e rituais de exorcismo na casa, mas os relatos da família diziam que as manifestações apenas se intensificavam depois de cada tentativa.
O caso ganha repercussão nacional
Em 1986, o escritor Robert Curran, em parceria com os Warren e os Smurl, publicou o livro The Haunted: One Family’s Nightmare, que narrava em detalhes os horrores vividos pela família. O lançamento projetou a história para além da Pensilvânia, chamando a atenção de jornais, programas de TV e investigadores céticos. No início dos anos 1990, a emissora CBS produziu o telefilme The Haunted, baseado no livro, consolidando o caso Smurl como um dos relatos de assombração mais conhecidos dos Estados Unidos.
A fuga da família
Em 1989, sem conseguir resolver o problema mesmo após anos de intervenções religiosas e investigações paranormais, os Smurl decidiram abandonar a casa. Eles relataram que apenas com a mudança conseguiram recuperar alguma paz.
A residência continuou a ser alvo de curiosos e investigadores, mas nunca houve consenso. Enquanto alguns defendiam a veracidade dos relatos, outros acreditavam que a família teria exagerado ou até inventado as experiências para obter lucro com livros e aparições na mídia.
A ligação com Invocação do Mal
Décadas depois, o caso Smurl voltou aos holofotes ao ser escolhido como base para Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025). Assim como em outras produções da franquia, os eventos reais servem de inspiração para o terror sobrenatural, levando para as telas o que a família e os Warren descreveram como um pesadelo vivido por mais de uma década.
O Caso Smurl permanece até hoje sem explicação definitiva. Para uns, é um exemplo assustador da presença do maligno no cotidiano humano; para outros, uma construção marcada por histeria coletiva e oportunismo midiático.
O que se sabe é que a vida da família Smurl foi profundamente transformada entre 1974 e 1989 por fenômenos que desafiam a compreensão. E, como em tantos outros episódios ligados a Ed e Lorraine Warren, a linha entre realidade e crença continua a ser debatida — ao mesmo tempo em que alimenta o fascínio do público por histórias em que o inexplicável invade a vida real.