Em meio aos conflitos no Oriente Médio e à escalada de tensão entre Irã, Israel e Estados Unidos, o termo “aiatolá” volta a aparecer com frequência em reportagens e análises internacionais. Mas afinal, o que são os aiatolás? Por que eles exercem tanta influência? E como chegaram ao poder no Irã?
O que significa “aiatolá”?
A palavra “aiatolá” (do árabe Ayatollah, آية الله) significa “sinal de Deus”. É um título religioso usado no islamismo xiita para designar eruditos e juristas altamente respeitados por sua profunda compreensão do Alcorão, da jurisprudência islâmica (sharia), da teologia e da filosofia islâmica.
No islamismo xiita, especialmente no ramo Twelver (o mais dominante no Irã), os aiatolás ocupam o mais alto patamar da hierarquia religiosa, atuando como guias espirituais e morais da comunidade. Eles também têm autoridade para emitir fatwas (decretos religiosos) e interpretar as leis divinas.
A função dos aiatolás no Irã
Desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã é governado sob um modelo teocrático que combina religião e política. Nesse sistema, os aiatolás não apenas lideram a fé xiita, como também têm poder real sobre o Estado.
O cargo mais alto do país é ocupado pelo Aiatolá Supremo, que detém o controle das Forças Armadas, nomeia os chefes do Judiciário, interfere no Parlamento e na política externa, e pode vetar decisões do presidente eleito. O atual Aiatolá Supremo do Irã é Ali Khamenei, sucessor do influente Ruhollah Khomeini, líder da Revolução de 1979.

Aiatolás e a lei islâmica
Os aiatolás são especialistas em fiqh, a jurisprudência islâmica. Eles passam décadas estudando em seminários religiosos (hawzas), especialmente em cidades sagradas como Qom (Irã) e Najaf (Iraque). Ao atingir um nível elevado de conhecimento, podem se tornar “marja taqlid” — uma espécie de referência suprema que os fiéis devem seguir.
Eles são responsáveis por orientar os muçulmanos xiitas em temas religiosos, sociais e até econômicos, desde questões familiares até posicionamentos sobre guerra e paz.
Aiatolás e política internacional
A atuação dos aiatolás vai muito além das mesquitas. No caso do Irã, esses líderes influenciam diretamente a postura do país em conflitos regionais e na sua rivalidade histórica com Israel, Arábia Saudita e Estados Unidos.
O regime iraniano, guiado pela ideologia dos aiatolás, defende um modelo antiocidental e se posiciona como defensor dos xiitas em todo o Oriente Médio, inclusive em países como Síria, Líbano (por meio do Hezbollah), Iraque e Iêmen. Essa visão expansionista gera tensões constantes e alimenta o medo de uma guerra de grandes proporções.
Curiosidades
- O aiatolá mais famoso da história recente é Ruhollah Khomeini, considerado o pai da Revolução Islâmica. Ele é reverenciado como um mártir da resistência contra o Ocidente.
- O atual líder supremo, Ali Khamenei, está no poder desde 1989 e é uma das figuras mais influentes do mundo xiita.
- Nem todo religioso xiita se torna aiatolá. O título é concedido apenas aos mais respeitados estudiosos após anos de formação e reconhecimento público.
Os aiatolás são muito mais que figuras religiosas. Eles representam a fusão entre fé, poder e ideologia, especialmente no contexto do Irã moderno. Com influência direta sobre milhões de fiéis e controle sobre decisões de Estado, esses líderes moldam o destino não apenas de seu país, mas de toda a geopolítica do Oriente Médio.
Num momento em que o Irã se vê no centro de uma possível escalada militar contra potências globais, entender o papel dos aiatolás é essencial para compreender a lógica por trás das decisões políticas e estratégicas de Teerã.
Fonte: Ap News