Pluribus | Série não é para a geração Tik Tok, dispara showrunner

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Do criador de Breaking Bad, a série Pluribus incomoda parte dos espectadores por conta de seu ritmo lento e gradual, especialmente os mais jovens. Mas as reclamações não são nenhum incômodo para o showrunner Vince Gilligan, ao menos foi o que ele disse em recente declaração.

Durante entrevista ao Esquire, Gilligan declarou seu amor pelo gênero “thriller slow burn” que, segundo ele, reflete a forma como a vida realmente acontece. Ele ainda exaltou o formato perante a uma geração acostumada com cortes rápidos em redes sociais como o Tik Tok:

Eu simplesmente amo esse tipo de espetáculo. Para mim, essa é a essência dele: mostrar ao público algo que eles não entendem direito a princípio, para que depois a ficha caia lentamente sobre o que eles estão assistindo. Acho que é um tônico — uma forma mais lenta de contar histórias.“, explicou Gilligan. “É uma vantagem em um mundo de edição muito acelerada e vídeos de TikTok que duram apenas um minuto.

Aprofundando o comentário, Vince disse que não acredita que o formato acelerado do mundo moderno seja saudável:

Se o mundo inteiro se movesse nesse ritmo de narrativa do TikTok, isso seria muito triste para mim. Acho que existe uma certa porcentagem da audiência — gosto de pensar que é grande o suficiente para sustentar séries como esta — que está pronta para um ritmo mais lento.“, continuou o criador de Pluribus. “É o fast food contra a comida caseira. Gosto de um ritmo narrativo mais lento porque, para mim, essa é uma das grandes ferramentas que você tem quando se esforça para injetar uma certa dose de espetáculo na sua narrativa.

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Mais sobre Pluribus

“Pluribus” é a nova série de ficção científica criada por Vince Gilligan para a Apple TV+, marcando o retorno do roteirista ao gênero após os anos em Breaking Bad, Better Call Saul e sua passagem por Arquivo X. A produção estreou em novembro de 2025 e rapidamente se tornou um dos maiores sucessos da plataforma, chegando forte o suficiente para garantir continuidade e conquistar status de nova queridinha da ficção científica de streaming.

A premissa parte de uma ideia simples e perturbadora: “a pessoa mais infeliz da Terra precisa salvar o mundo da felicidade”. Em um futuro próximo, ou numa versão levemente distorcida da nossa realidade, algo começa a unificar as mentes das pessoas, criando uma espécie de consciência coletiva que transforma a humanidade em um grande organismo mental, mais alinhado do que qualquer rede social ou tendência cultural jamais conseguiu.

O que é Pluribus e o que significa esse título

O título da série vem do latim “pluribus”, derivado da expressão “E pluribus unum” (“de muitos, um”), e já carrega na origem o conceito central da trama: indivíduos diferentes que passam a agir como se fossem uma única entidade. O próprio visual do nome, trocando a letra “i” pelo número 1, reforça essa ideia de fusão entre muitos e uma unidade dominante.

Na prática, o que vemos na série é um mundo tomado por uma sensação estranha de bem-estar generalizado. Pessoas que deveriam estar em conflito, dor ou crise passam a exibir uma felicidade quase programada, como se alguém tivesse apertado um botão invisível de otimismo global. Só que essa “felicidade” não soa natural. Há algo de invasivo nesse estado de espírito perfeito demais, um tom suave demais para um planeta acostumado a caos, medo e dúvida.

Pluribus transforma esse pano de fundo em horror psicológico: quanto mais o espectador percebe que todo mundo está bem “demais”, mais fica claro que esse bem-estar pode ser sintoma de um controle profundo, um apagamento da individualidade em nome de um suposto bem maior.

A protagonista mais miserável da Terra

No centro dessa distopia sorridente está a protagonista vivida por Rhea Seehorn. Ela é apresentada como a “pessoa mais miserável da Terra”, alguém que parece completamente imune à onda de felicidade coletiva que domina a humanidade. Enquanto colegas, vizinhos e desconhecidos se rendem a essa paz artificial, ela continua deprimida, cínica, irritada com o mundo e com ela mesma.

É justamente essa incapacidade de ser “convertida” que a transforma na única esperança real de entender o que está acontecendo. Se todos abraçaram a alegria compulsória, ela é o defeito do sistema, a falha na matriz, a peça que não se encaixa no grande quebra-cabeça da mente coletiva. Em vez de ser curada por esse fenômeno, ela é empurrada para o isolamento e a paranoia, até perceber que sua infelicidade pode ser, paradoxalmente, a única forma de liberdade que ainda existe.

Ao redor dela, a série constrói um elenco que inclui Karolina Wydra, Carlos‑Manuel Vesga e participações especiais de nomes como Miriam Shor e Samba Schutte. Cada personagem reage de um jeito ao avanço da consciência coletiva: alguns se entregam, outros resistem, outros tentam se adaptar fingindo felicidade. O resultado é um mosaico de respostas humanas diante de uma força que promete acabar com a solidão – mas cobra, em troca, a própria noção de “eu”.

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Consciência coletiva, ficção científica e crítica social

Pluribus trabalha a ideia de mente coletiva como um conceito clássico de ficção científica e, ao mesmo tempo, como metáfora muito direta para o nosso tempo. A série lembra, em alguns pontos, os Borg de Star Trek, a fusão de mentes de histórias cyberpunk e até a densidade sarcástica de obras como Rick and Morty, mas sempre filtrando esses elementos pelo estilo mais contido, seco e tenso de Vince Gilligan.

Ao mostrar pessoas falando em uníssono, tomando decisões como se fossem uma única mente e pressionando qualquer divergência a desaparecer, a trama toca em temas extremamente contemporâneos. A cultura da positividade tóxica, a obrigação de estar sempre bem nas redes sociais, a padronização de opiniões, a sensação de que “todo mundo pensa igual” em determinadas bolhas – tudo isso aparece sob a lente de um sci‑fi que exagera esse processo até o limite.

O mundo de Pluribus é um mundo em que a tristeza se torna erro de sistema. A protagonista é, literalmente, um bug humano. A partir dessa ideia, a série faz perguntas incômodas: o que se perde quando nenhuma mente está sozinha? O que é liberdade quando todo mundo se sente “feliz” da mesma maneira? E até onde um poder invisível pode ir em nome da paz e do bem-estar coletivo?

O último episódio da primeira temporada de Pluribus estreia hoje (23) na Apple TV às 23h no horário de Brasília.

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