Trinta e sete anos depois de parar o Brasil, a pergunta volta a valer ouro: quem matou Odete Roitman? No capítulo especial exibido hoje, o remake de Vale Tudo leva a vilã — vivida agora por Débora Bloch — ao seu destino trágico e reacende a caçada por pistas. A autora Manuela Dias afunilou o jogo a cinco nomes: Heleninha (Paolla Oliveira), Tia Celina (Malu Galli), Marco Aurélio (Alexandre Nero), Maria de Fátima (Bella Campos) e César (Cauã Reymond). O quinteto reúne mágoas antigas, choques de poder e segredos que, nesta versão, foram atualizados com a mesma crueldade elegante de Odete.
Heleninha é a ferida exposta da família Roitman. Filha que cresceu à sombra do desprezo da mãe, ela volta a se desequilibrar justamente quando descobre que a matriarca escondeu por anos um segredo que implodiu o clã. A recaída recente só intensifica a sensação de abandono e humilhação. No remake, Heleninha sofre menos no silêncio: ela confronta, cobra, e é esmagada — combustível perfeito para que o público a veja tanto como vítima quanto como possível algoz.

Tia Celina, por sua vez, deixou de ser só o colchão emocional da casa. Anos de obediência e apagamento culminam no estalo: ao descobrir a extensão das mentiras de Odete, Celina declara guerra. A socialite que sempre “mantinha as aparências” se torna o limite moral do núcleo, cansada de ser manipulada, de engolir humilhações e de cuidar de feridas que não são suas. Sua motivação é um acúmulo de décadas, e poucas pessoas em Vale Tudo foram tão rebaixadas por Odete quanto ela.

No tabuleiro corporativo, Marco Aurélio é a faca de dois gumes. Ex-sócio e rival, ele encarna a disputa pela TCA no século XXI: dossiês, chantagens, tiros e manchetes encomendadas. Entre um atentado abafado e uma retaliação à queima-roupa, a guerra com Odete ultrapassou o econômico há muito tempo. Se o mundo dos negócios de Vale Tudo sempre foi um vale-tudo, Marco Aurélio joga esse jogo com sangue frio — e motivo não lhe falta.

Maria de Fátima continua a ser tempestade perfeita. Ambição turbinada, ascensão social a qualquer preço e uma relação tóxica com a ex-sogra viraram um circuito de curto. No remake, Fátima ultrapassa a manipulação costumeira e parte para a chantagem aberta, depois de descobrir segredos que Odete jamais admitiria. Quando a vilã reage à altura e vira o jogo, o que sobra entre elas é pólvora pura.

César, enfim, é o suspeito que veste a máscara com mais naturalidade. Gigolô reformulado para os códigos de 2025, ele circula entre as camas e os cofres com a mesma desenvoltura — e está no olho do furacão desde que interesses financeiros passaram a depender da queda de Odete. Entre heranças disputadas, flagras comprometores e a velha arte de esconder a arma certa no saco errado, César sabe que uma bala pode resolver mais rápido do que um acordo.

Quem matou Odete Roitman em 1988?
O choque de hoje também conversa com a memória afetiva do público. Em 1988, Odete — interpretada por Beatriz Segall — morreu por um disparo de Leila (Cássia Kis), que atirou acreditando acertar Maria de Fátima. O Brasil esperou até o último capítulo para ver o flashback que revelou o engano mortal. No remake, Manuela Dias grava múltiplos desfechos e deixa a porta aberta para novas leituras, honrando a pergunta que fez da novela um fenômeno: vale tudo?
No meio de homenagens e iscas narrativas, Vale Tudo prova por que esse crime sobreviveu a gerações. Não é só “quem puxou o gatilho”, mas o que a bala atravessou: classe, hipocrisia, família, poder e o preço — sempre alto — de vencer a qualquer custo.