MKUltra: o projeto da CIA que usou pessoas como cobaias e inspirou Stranger Things

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Durante a Guerra Fria, a paranoia entre Estados Unidos e União Soviética deu origem a projetos secretos de espionagem e experimentos que até hoje parecem saídos de um roteiro de ficção científica. Um dos mais obscuros foi o Projeto MKUltra, conduzido pela CIA ao longo de duas décadas. Sob o pretexto de desenvolver técnicas de controle mental, milhares de pessoas foram submetidas a drogas alucinógenas, eletrochoques e sessões de hipnose, muitas vezes sem saber que estavam sendo usadas como cobaias.

O nascimento de um projeto secreto

O MKUltra começou oficialmente em 1953, autorizado pelo então diretor da CIA, Allen Dulles. O objetivo era encontrar formas de manipular pensamentos, extrair informações de prisioneiros e até criar espiões programados, capazes de obedecer a ordens sem questionar. A agência acreditava que inimigos como soviéticos e chineses já estariam desenvolvendo métodos de “lavagem cerebral”, e os Estados Unidos não poderiam ficar para trás.

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Para alcançar esse objetivo, a CIA financiou centenas de pesquisas em universidades, hospitais e prisões. Muitas delas eram realizadas por cientistas que sequer sabiam que estavam sendo patrocinados pela agência, já que o dinheiro vinha por meio de organizações de fachada.

Drogas, hipnose e privação sensorial

Entre os métodos usados, o mais famoso foi o uso de LSD. A CIA acreditava que a droga poderia ser a chave para manipular mentes, quebrar resistências psicológicas e até criar soldados obedientes. Mas os testes não se limitavam a ela. Heroína, mescalina, barbitúricos e até coquetéis experimentais eram aplicados em voluntários e, principalmente, em pessoas que não tinham ideia do que estava acontecendo.

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Pacientes psiquiátricos, prisioneiros e até cidadãos comuns foram expostos a sessões de hipnose, longos períodos de privação sensorial e choques elétricos. A meta era fragilizar a mente humana e reprogramá-la a partir do zero. Muitos participantes relataram perda de memória, surtos psicóticos e danos permanentes à saúde mental.

A morte de Frank Olson

Um dos episódios mais chocantes ligados ao MKUltra foi a morte do cientista do exército Frank Olson em 1953. Ele teria recebido uma dose de LSD sem consentimento durante um encontro com colegas da CIA. Dias depois, foi encontrado morto após cair da janela de um hotel em Nova York. Oficialmente, o caso foi tratado como suicídio. Mas décadas depois, novas investigações levantaram a suspeita de que Olson havia sido silenciado por saber demais sobre os experimentos do programa.

O silêncio e a revelação

Durante anos, o MKUltra se manteve escondido da opinião pública. Mas em 1973, com receio de que os detalhes viessem à tona, o então diretor da CIA, Richard Helms, ordenou a destruição de quase todos os arquivos. Mesmo assim, cerca de 20 mil documentos escaparam.

Foi apenas em 1975, com as audiências do Comitê Church no Senado norte-americano, que os abusos começaram a ser revelados. Dois anos depois, novas sessões no Congresso expuseram ainda mais detalhes e deram voz a vítimas que sofreram com os experimentos.

MKUltra e Stranger Things

O MKUltra nunca cumpriu sua promessa de criar técnicas infalíveis de controle mental. Mas deixou um rastro de vidas destruídas, famílias marcadas e uma sombra de desconfiança sobre os limites do poder governamental.

O caso entrou para a cultura popular, alimentando teorias da conspiração e inspirando produções como Stranger Things, onde o laboratório que testa Eleven é uma referência direta ao programa. Mais do que isso, permanece como um exemplo de até onde governos podem ir quando o medo e a paranoia justificam qualquer meio em nome da segurança nacional.

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O Projeto MKUltra mostra que, por trás de relatórios oficiais e discursos patrióticos, existem histórias de dor e abusos irreparáveis. Pessoas comuns foram usadas como cobaias, muitas vezes sem nunca saber o motivo. Décadas depois, o programa continua sendo lembrado como uma das páginas mais sombrias da história norte-americana e um alerta sobre o perigo de misturar ciência, poder e falta de ética.

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