Vale Tudo (2025) e o arco da maionese: quando o drama vira paródia

maionese vale tudo

O arco da maionese no remake de Vale Tudo tinha tudo para ser um momento de pura tensão, mas acabou se tornando uma aula prática de como não modernizar uma cena clássica. Na versão original de 1988, a sequência era um dos picos dramáticos da novela, com Celina atravessando a cidade em desespero para impedir que clientes de um restaurante consumissem o prato sabotado. Já na adaptação de 2025, Manuela Dias decidiu que a tensão viria de um apagão… que, curiosamente, não existe quando Celina chega ao local.

“Ninguém toca nessa maionese!”, grita a personagem, em um restaurante iluminado como se fosse cenário de comercial de margarina.

O tal apagão, que supostamente serve para cortar comunicações e impedir o envio de alertas, não apenas é anulado pela luz acesa no clímax, como também levanta uma questão básica: um blecaute derruba o WhatsApp? Em 2025 ninguém tem plano de dados? Toda a cidade depende unicamente de wi-fi para se comunicar? Parece que a construção do suspense não passou por um teste simples de lógica antes de ir ao ar.

Mas o problema não para na falha técnica. A autora, ao ser questionada sobre críticas ao remake, prefere se sentar em um pedestal e alegar que qualquer comentário negativo é “preconceito por sua condição de mulher” ou “tentativa de censura”. É um escudo retórico que, no lugar de blindar a obra, só evidencia que Vale Tudo (2025) não quer — ou não consegue — lidar com discussões sérias sobre suas próprias escolhas criativas.

A cena, que deveria provocar aflição, acaba funcionando como paródia involuntária. O peso social e a tensão crua do original foram trocados por um melodrama que aposta em um artifício frágil e incoerente. E, quando o grande momento de heroísmo depende de uma justificativa que se contradiz dentro da própria narrativa, o resultado é inevitável: impossível levar Vale Tudo a sério.

Mais sobre Vale Tudo

A audiência de Vale Tudo (2025) segue irregular, longe de alcançar o impacto cultural e os índices da versão original. Embora tenha estreado com curiosidade elevada e forte presença nas redes sociais, a repercussão rapidamente se dividiu entre elogios pontuais ao elenco e uma enxurrada de críticas ao texto e às escolhas narrativas. O remake acumula momentos virais — quase sempre pelo tom involuntariamente cômico de certas cenas — e se mantém em pauta mais pela polêmica do que pelo mérito artístico. Enquanto defensores exaltam a tentativa de atualização, a base mais crítica aponta incoerências, diálogos artificiais e um afastamento completo do espírito afiado que consagrou a obra de 1988.

Veja a recriação da cena da maionese no UOL Splash

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