
POR ADAILTON MORAES
O Gambito da Rainha acompanha a jovem Beth Harmon, interpretada pela talentosa Anya Taylor-Joy, em sua jornada aprendendo a jogar xadrez e se tornando um nome importantíssimo na modalidade, chegando inclusive a disputar campeonatos na União Soviética durante a Guerra Fria. A série da Netflix criada por Scott Frank agradou muito o público e disputa em sete categorias do Emmy 2021, maior prêmio da televisão. Entretanto, a produção está dando uma boa dor de cabeça para o serviço de streaming e para o próprio Scott, que estão sendo processados por Nona Gaprindashvili, a primeira mulher a receber o título de grande mestra do xadrez nos anos 70.
A enxadrista acusa a série de difamação e declaração sexista. O que acontece é que durante a partida de Beth Harmon no último episódio da produção um comentarista fala sobre a protagonista e menciona Nona, afirmando que ela jamais enfrentou homens:
“A única coisa inusitada sobre ela [Beth] é unicamente o seu sexo, mas isso não é único na Rússia. Existe a Nona Gaprindashvili, mas ela é a campeã mundial na modalidade feminina e nunca enfrentou homens”– diz o comentarista na série.
A ação movida por Nona afirma que a declaração é completamente falsa e que desmerece o seu nome simplesmente para dar brilho à trama e à própria protagonista, buscando dar a ela um pioneirismo que não é devido. A enxadrista também deixa claro que em 1968, período em que O Gambito da Rainha se passa, ela já tinha enfrentado 58 oponentes homens, sendo que dez deles eram grandes mestres do esporte. O texto do processo ainda diz:
“A Netflix mentiu deliberadamente e com afinco sobre as conquistas de Gaprindashvili, com o propósito barato e cínico de aumentar o drama e fazer sua protagonista fictícia conseguir fazer o que nenhuma mulher conseguiu antes.”

Para completar, Nona e seus advogados destacam que a série original da Netflix a retrata como russa, sendo que ela é georgiana:
“Partindo para a ofensa, a Netflix descreve Gaprindashvili como russa, apesar de saberem que ela é da Geórgia, e que o pove de lá sofreu sob a dominação russa durante a União Soviética, além de terem sido perturbados e invadidos pela Rússia depois.”
O processo pede indenização singela de US$ 5 milhões mais bônus e exige que as falácias sejam removidas da série. Em contrapartida, a Netflix já se manifestou sobre o caso em entrevista ao The Hollywood Reporter e destacou que respeita o legado de Nona no xadrez, mas que as acusações são infundadas:
“A Netflix tem o maior respeito por Nona Gaprindashvili e sua ilustre carreira, mas acreditamos que não há mérito nessas acusações e vamos vigorosamente defender o caso.”
“O Gambito da Rainha” segue disponível no catálogo da Netflix. Já assistiram? Deixe sua opinião sobre a série e o processo nos comentários.