
POR ADAILTON MORAES
O filme animado baseado no arco Injustice estreia no Brasil no próximo dia 21 de outubro, mas a versão legendada está disponível e já tivemos a oportunidade de assistir. Com a promessa de trazer a história onde o Superman se torna um tirano incontrolável após a morte de Lois Lane, trama nascida para os games que acabou conquistando o público e ganhando uma saga nos quadrinhos da DC, a animação se distancia muito do épico que poderia ser. Confira a seguir nossa crítica completa:
ATENÇÃO! O POST A SEGUIR CONTÉM SPOILERS
Primeiro vale a gente comentar que muitos não gostam do arco Injustice por conta da corrupção no caráter do Superman, tido como o maior símbolo de heroísmo dentro das histórias em quadrinhos e também no mundo real, mas particularmente isso não me incomoda, principalmente porque o Homem de Aço de Injustice está longe de ser a única versão maligna do herói mais popular de todos. Na verdade nos últimos anos, versões malignas do Superman estão ganhando muito destaque, vide a série animada Invencível que popularizou o Omniman, o Capitão Pátria de The Boys, Brender Breyer em Brightburn, entre outros; portanto Injustice é só mais uma leitura do lado maligno do Superman. Mas no filme animado Injustice as coisas ficam mais complicadas em relação à construção do tirano Superman e não podemos sentir o impacto dessa transformação tão intensamente como nos games e quadrinhos.
A animação começa muito bem apresentando o plano de fundo para a ditadura vindoura do Homem de Aço, ainda que de maneira muito rápida. O Coringa decide “fazer sua maior piada” com o Superman em Metrópolis, fazendo-o matar sua esposa Lois Lane, que estava grávida do primeiro filho do casal. O único detalhe questionável desse primeiro momento é, como muitos comentaram, a morte do Flash, que merecia ao menos uma sequência melhor desenvolvida, mas enfim… as coisas começam a desandar mesmo após Superman matar o Coringa na frente do Batman. Uma das coisas que mais me incomodou foi a personalidade rasa da Mulher Maravilha, que aceita a mudança de postura de Kal-El instantaneamente e nem de longe duvida sobre a ideia de controlar a Terra com mãos de ferro. A gente sabe que a visão de justiça de Diana sempre foi diferente das crenças do Batman e do próprio Super e que, entre a trindade, a princesa amazona é a mais letal em relação à sua galeria de vilões; mas ao mesmo tempo, a heroína sempre demonstrou grande amor pela humanidade, o que não vimos entre o início e meio da animação. Já no final, depois que o Superman matou diversas pessoas, incluindo o Arqueiro Verde, a princesa de Themyscira volta a si e percebe que estavam indo pelo caminho errado, mas a mudança de opinião também não apresenta profundidade alguma.
Outro detalhe de qualidade duvidosa na animação de Injustice é o arco de Dick Grayson, o Asa Noturna, que posteriormente se transforma no Deadman tal como acontece nos quadrinhos. Morto com uma pancada na cabeça, o que é absolutamente possível, mas igualmente frustrante, após sua morte Dick acaba diante de uma entidade cósmica que lhe concede seus poderes para que possa interferir no mundo dos vivos e assim ajudar a impedir que o Superman destrua o equilíbrio desse universo. Confesso que essa trama já me desagrada essencialmente e não esperava ver isso sendo adaptado para a animação (mas enfim foi), mas o que me incomodou ainda mais foi o fato de Dick como Deadman não ter na derrota do Superman, na verdade ele sequer dá as caras no confronto final contra o vilão e sua segunda e última interferência é na luta de Damian Wayne contra Ra’s Al Ghul. E por falar nesse luta, porque Dick possui o corpo de Damian e não o de Ra’s Al Ghul para neutralizá-lo como fez com o Ciborgue? Fica a dúvida.
Seguindo falando sobre Ra’s Al Ghul, também não via a necessidade dele ser incluído como o vilão do filme, uma vez que manipulou até o próprio Superman, que deveria ser o grande tirano do início ao fim. O personagem serve para mostrar que Clark continua sendo ingênuo mesmo em meio à loucura e ainda traz o Amazo, sabe-se lá de onde, para mostrar que o Homem de Aço ainda tinha um pouco de herói em si, o que é legítimo, afinal ninguém mudaria completamente assim tão rápido. Mas mais uma vez, não há exploração profunda sobre as motivações reais de Ra’s Al Ghul, um erro que acontece com praticamente todos os personagens durante a animação.
Para completar a salada mista que é a cena final dessa adaptação de Injustice, os heróis trazem outro Superman de outra Terra para confrontar a versão maligna e ele leva uma baita surra. No fim quem salva o dia mesmo é a Lois Lane de outra outra Terra (são muitas Terras rs), que aparece grávida no meio da ação e faz o Superman do mal se arrepender com meia dúzia de palavras. Claro que Lois tem um impacto emocional sobre Clark, ainda mais grávida, mas não sei se queria ver ele se rendendo tão facilmente, antes fosse realmente derrotado.
Terminando, Injustice apresenta inúmeros problemas, alguns em comum com o arco original, outros exclusivos da animação, e desperdiça a oportunidade de ser um épico ou mesmo de abrir uma série de filmes animados paralelos ao universo animado compartilhado que está sendo construído após a conclusão da adaptação dos Novos 52 com Guerra de Apokolips. O filme tem a pretensão de iniciar e concluir um arco tão complexo em cerca de uma hora, o que entrega um produto sem profundidade e decepcionante. A DC é imbatível no quesito animação, disso não tenho dúvidas, mas essa em especial é frustrante.
Mas e você, concorda comigo sobre a animação de Injustice ou discorda? Fique a vontade para deixar suas opiniões nos comentários.